Crivella prega contra o vício do álcool em seu texto, e afirma que “ele destrói suas vítimas, sem que elas percebam”.
Contando uma história, segundo ele verdadeira, o ministro Crivella relatou o caso de um trabalhador que saiu do interior rumo a São Paulo para construir carreira, e anos após, quando já havia conquistado sua família e casa própria, se tornou viciado na bebida, o que o levou a perder o emprego e tudo à sua volta.
“A palavra álcool é de origem árabe e significa sutil. Realmente, não há nada que seja mais sutil do que a bebida alcoólica. Ela entra em qualquer ambiente e frequenta desinibidamente todas as classes sociais”, afirma o bispo.
Crivella escreve que “quando o sujeito está triste, bebe para esquecer. Quando está alegre, bebe para comemorar. Se está calor, toma uma geladinha. Se está frio, uma dose para esquentar. Lá está a maldita sutileza. Vai chegando devagar, passo a passo, para tomar o seu lugar”.
A bebida, segundo Crivella, está em todos os lugares: “Está presente na confraria miserável dos mendigos, debaixo das pontes, como também é convidada de honra nos grandes bailes, nos palácios e nas recepções aos líderes de Estado”.
O líder da Igreja Universal do Reino de Deus, bispo Edir Macedo, afirmou durante pregações que bebe cerveja, e que isso é uma questão pessoal. Em seu texto, Crivella afirma que o vício no álcool é “sutil” e “maldito”.
Confira abaixo a íntegra do artigo “Mestre Zé, Rita e Rosinha”, do bispo e ministro Marcelo Crivella:
A palavra álcool é de origem árabe e significa sutil. Realmente, não há nada que seja mais sutil do que a bebida alcoólica. Ela entra em qualquer ambiente e frequenta desinibidamente todas as classes sociais. Não só está presente na confraria miserável dos mendigos, debaixo das pontes, como também é convidada de honra nos grandes bailes, nos palácios e nas recepções aos líderes de Estado.
Quando o sujeito está triste, bebe para esquecer. Quando está alegre, bebe para comemorar. Se está calor, toma uma geladinha. Se está frio, uma dose para esquentar. Lá está a maldita sutileza. Vai chegando devagar, passo a passo, para tomar o seu lugar.
Foi assim que a bebida entrou na vida de José Severino da Silva, um jovem do interior que veio tentar a sorte na cidade de São Paulo. Ele deixou o Ceará com o sonho de se tornar rico. Seu primeiro emprego foi de servente de obra. Era um rapaz forte, de boa vontade e rápido para aprender.
O velho pedreiro e o experiente carpinteiro de formas brigavam para ter o Zé como ajudante. Foi assim que ele aprendeu todas as profissões na construção, formou-se na escola da vida e na prática do trabalho se fez mestre de obras.
Ganhando melhor e bem ajuizado, Mestre Zé se casou com Rita dos Anjos e construiu sua própria casa. Não era de luxo, mas estava longe de ser um barraco qualquer. Era um sobradinho jeitoso, de frente para a pracinha do bairro, com um muro bem pintado e um jardim sempre florido. Era mesmo o que se pode chamar de um lar feliz.
A família aumentou com a chegada de Rosinha, a primeira filha. Ela recebeu o nome da avó, a mãe do Zé, numa homenagem merecida à memória da falecida senhora.
Zé, Rita e Rosinha viviam uma vida simples, mas cheia de paz e fartura. Até que um dia, após o serviço, Zé parou no bar, a convite dos amigos. Maldita hora!
Entre conversas, risos e músicas, a bebida foi chegando, tomando lugar no seu sangue, acendendo-lhe os olhos, impondo seu gosto, seu cheiro, seu ardor, com os quais construiria mais tarde as muralhas da prisão do vício e da dependência.
As visitas ao bar foram ficando mais constantes. De duas a três vezes por semana, passaram a ser. Zé, que costumava estar em casa por volta das sete, para jantar com a família e assistir ao filme da TV, agora não chegava antes das dez, distante, trôpego, fingindo que nada havia acontecido.
O fim do dia, que marcava com alegria na vida de Rita e Rosinha a volta do pai para o lar, passou a ser momento de angustiada espera, de debruçar na janela, de ficar de pé no portão, olhando de um lado para o outro.
Zé já não podia ficar sem a bebida. Ia para o bar todo dia, principalmente nos finais de semana. Aí mesmo é que a bebida já o tomava desde cedo. Possuído pelo vício, começou a chegar atrasado na obra. Ficou desinteressado e perdeu a voz de comando. Errava em coisas simples e se esquivava do serviço.
Não precisou de muito tempo para perder o emprego e mergulhar a família na crise financeira. O dinheiro da indenização foi quase todo para pagar dívidas no bar. Agora, desempregado, Zé se entregou de vez ao vício. De Mestre Zé passou a ser chamado de “Zé Cachaça”, “Zé Bebum”, um “Zé” qualquer, nome desses que se dá ao pobre infeliz que cai nas garras do alcoolismo.
A casinha, bem construída, era uma tristeza só. A pintura ficou suja, o portão caiu e o jardim era puro mato. A televisão, o estofado, as cortinas… Foi tudo sendo, pouco a pouco, vendido para saldar as dívidas contraídas nas bebedeiras.
Rita, amargurada, carregava sozinha a vergonha diante dos vizinhos. As contas atrasadas, o pede aqui e ali para remediar a situação. Alguém já disse, sabiamente, que a mulher de um alcoólatra é uma heroína e merece uma estátua, em escala 10 por 1, no centro da praça pública.
Aquela aparente alegria das primeiras visitas ao bar transformaram a vida do Zé. A bebida mostrou suas garras cruéis e dilacerou sua vida, seu destino e a felicidade de sua família.
Mas o pior ainda estava por vir. Um dia, quando ele bebia como de costume, alguém veio lhe chamar com a notícia de que sua filha Rosinha ardia em febre. Precisava de sua atenção e providência urgente.
Os mensageiros foram muitos, desde cedo até o anoitecer. Mas Zé adiava sua ida para “daqui a pouquinho”, “já vou”, “dois minutos”.
Combalida pelas vicissitudes da vida, pela ausência do pai, pelos dias de pouco ou quase nada, a linda Rosinha agora era pele e osso. Seu corpinho indefeso foi vítima da tuberculose impiedosa que, sorrateiramente, alastrou-se por seus pequeninos pulmões.
Tarde da noite, hora do vendeiro enxotar os embriagados e fechar as portas do bar, o Zé, a passos trôpegos, tomou o rumo de casa. A certa distância viu estranhas luzes brilhando, vindas da sala. Ao se aproximar, lá estava, sendo velado, o pequeno caixão de Rosinha, cercado por pequeninas velas e flores simples. A pobre menina não resistira.
Insensibilizado pelo álcool, Zé se recostou em um canto da sala, sem dar conta da tragédia que atingira seu lar. Nas horas tristes daquela madrugada, o outrora lar feliz do Mestre Zé era um velório de dor, de perda e de saudade. Nunca mais se veria o rosto de Rosinha, o brilho de seus olhos a esperar pelo pai querido no portão ou a correr pelo jardim.
Quando o efeito do álcool foi, pouco a pouco, deixando a mente daquele pai infeliz, o desespero e o remorso foram lhe trazendo as trevas. Impotente para enfrentar a realidade, foi tomado pela sede louca do álcool, da busca da fuga, que crescia no seu interior.
Sem dinheiro para saciar o vício, aproximou-se sorrateiramente e, antes de fecharem o pequeno caixão, arrancou dos pés de sua filha os sapatinhos novos, que haviam sido doados para o enterro. Rosinha foi enterrada descalça. Assim culminou sua curta existência.
A história do Zé é verdadeira. É também verdade que, pelos muitos anos passados desde que estes fatos se sucederam nos arredores da capital de São Paulo, fugiram-me da memória os detalhes completos deste drama, razão pela quais nomes e profissões foram trocados. Mas de uma coisa jamais esquecerei: o álcool marcou para sempre a vida daquele lar, outrora tão feliz.
Afaste-se, meu irmão, do sutil. Não dê a ele nenhum espaço em sua vida. Lembre-se de que ele destrói suas vítimas, sem que elas percebam.
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