O jornal Boston Globe publicou nesta semana uma extensa matéria sobre
o crescimento da demanda de mentores espirituais entres os jovens nos
Estados Unidos.
A mentoria espiritual possui uma tradição de orientação religiosa com
raízes no cristianismo primitivo. Durante séculos, os mosteiros e
seminários ofereceram direção aos sacerdotes e membros de ordens
religiosas. Mas a prática tomou outros rumos neste século, com mais
pessoas, cristãs ou não, procurando ajudar para explorar a sua relação
com o divino.
A Associação Internacional de Administração Espiritual, a maior
organização conhecida do tipo, atendia cerca de 400 pessoas no seu
início, em 1990. Hoje são mais de 6.000 somente nos Estados Unidos.
Impulsionado pela crescimento da geração chamada de “milenares”, que
em maior número que as gerações anteriores se identificam como
“espiritual, mas não religioso.” Uma pesquisa recente mostra que nos
Estados Unidos, 25% dos jovens da “geração do milênio” não possui
nenhuma filiação religiosa.
Ed Cardoza, diretor espiritual e fundador da Still Harbor, uma
associação sem fins lucrativos sediada em Boston, diz que a maioria das
pessoas que o procuram têm entre 20 e 30 anos. Alguns são os cristãos
evangélicos que dizem ter uma forte relação com Jesus, mas perceberam
que diferem da igreja de seus pais nas questões políticas ou sexuais.
Outros não frequentam uma igreja, dizem ter passado por um “despertar
espiritual” mas não sabem a quem pedir ajuda.
“O que precisamos reconhecer é que há um número crescente de pessoas
que estão fora do alcance das instituições tradicionais”, disse Cardoza.
Pessoas fiéis de todas as idades formam um outro grande grupo que busca
direção espiritual. Muitas vezes, eles estão enfrentando um problema e
percebem que pedir ajuda a um pastor, padre ou rabino não é uma boa
opção. Isso acontece porque, muitas vezes, os sacerdotes limitam o
número de encontros que podem ter com os indivíduos, devido às demandas
de toda a sua congregação.
Muitos não possuem a formação ideal para fornecer o tipo de “escuta
sagrada” exigida na mentoria espiritual. Em uma sociedade cada vez mais
confortável com a ajuda de especialistas privados – personal trainner,
secretários pessoais, etc – a decisão de procurar um mentor espiritual
pessoal não parece tão exótica.
“Talvez seja para compensar algo que falta, que costumava acontecer
em outros meios informais”, disse Barbara Jansen, membro de uma igreja
episcopal, que consulta regularmente Colleen Sharka no Still Harbor.
Sharka é formada na área de saúde mental e também atua como mentora
espiritual. Ela entende que muitas pessoas que a procuram precisam
apenas de algum tempo para reflexão.
“Elas nunca param…” disse ela. “Na verdade, pedir que fiquem em silêncio gera algum trauma pois elas não sabem como fazer isso.”
Alguns desses mentores espirituais trabalham de graça, mas outros cobram
entre R$ 50 a R$ 120 por cada sessão de uma hora. Muitos são formados
em Teologia ou possuem alguma formação especializada. Mas ainda não
existe nenhum curso específico para isso. Os mentores mais experientes
salientam que a prática é tanto uma habilidade quanto um carisma [um dom
de Deus].
O que atrai as pessoas para a mentoria espiritual parece ser a
oportunidade de conversar cara a cara com alguém que deseja lhes ouvir e
ensinar algo, sem o ruído de um culto ou missa nem o isolamento de orar
sozinho. Não há pressão para participar de um grupo, fazer uma
promessa, dar uma oferta ou endossar um credo específico.
O número crescente de literatura sobre o assunto parece comprovar o
crescimento desse tipo de apoio espiritual que os jovens buscam. A
pastora Michelle Sanchez, que trabalha em uma igreja com jovens,
acredita que a direção espiritual está faltando nas instituições
religiosas de hoje. Ela criou um programa em sua igreja, a Highrock
Covenant Church, exigindo que todos os jovens de sua congregação
conversem pelo menos uma vez por ano com os “guias espirituais’’.
São leigos treinados por ela para oferecer direção espiritual.
“Muitas tradições religiosas acabam se sentindo divorciadas de sua vida e
experiência cotidiana, por isso acabam sendo irrelevantes” disse. “Acho
que as pessoas estão cansadas do que ouvem e essa ‘fome’ por um Deus
que possam conhecer, que é relevante e está perto, realmente pode
transformá-las.”
Traduzido e adaptado de Boston.com
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