Uma pesquisa realizada pela Faculdade de Educação da Universidade de
São Paulo (USP), coordenada pelo professor Nelio Bizzo, revelou que os
jovens brasileiros têm facilidade de aceitar tanto a religião quanto a
ciência e seus fundamentos, como a teoria da evolução de Charles Darwin.
O estudo foi realizado através de questionários aplicados a mais de
2300 alunos do ensino médio, de todas as regiões do país, tanto de
ensino público quanto privado. “É o primeiro dado com representatividade
nacional sobre esse assunto para esta faixa etária”, citou Bizzo.
O pesquisador é formado em Biologia e possui livros publicados
abordando a teoria de Darwin, ele comentou sobre o resultado do estudo,
“Ainda vamos fracionar e analisar mais profundamente as estatísticas,
mas já dá para perceber que os alunos religiosos brasileiros são bem
menos fundamentalistas do que se esperava”. Ele mostrou-se entusiasmado,
“É surpreendente. Algo que sugere que no futuro teremos uma população
com uma interpretação mais elástica das doutrinas religiosas e mais
sensíveis à ciência”.
A média de idade dos alunos que foram entrevistado é de 15 anos, e
sobre esse dado Bizzo disse tratar-se de uma fase de definição moral, “É
um período crucial. Dificilmente os conceitos de certo e errado mudam
depois disso”, citou. Ele ainda revelou, que “A porcentagem dos que
rejeitam completamente a origem biológica do homem é menor que a de
evangélicos da amostra, o que é uma surpresa, já que os evangélicos no
Brasil costumam ser os mais fundamentalistas na interpretação do relato
bíblico”, “A teoria evolutiva é talvez a coisa mais difícil de ser
aceita do ponto de vista moral pelos religiosos. Mesmo assim, os dados
mostram que a juventude brasileira é sensível aos produtos da ciência.”,
explicou.
O físico e teólogo Eduardo Cruz, professor do Departamento de Ciência
da Religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, também
comentou sobre a pesquisa, “O problema é que a maioria dos estudantes –
ainda mais com 15 anos – não tem muita clareza sobre o que está
envolvido na teoria darwiniana. Com isso há o potencial de surgirem
respostas contraditórias”, avaliou. “Isso não tem a ver com a qualidade
da pesquisa, mas com a pouca compreensão de temas tanto científicos
quanto teológicos. Além do que, quando se trata de perguntas que
envolvem a intimidade das pessoas, as respostas nem sempre são
confiáveis. É como perguntar a rapazes de 15 anos se ainda são
virgens.”.
Já a coordenadora da Pós-Graduação em Educação da Universidade
Metodista e professora da USP, Roseli, disse que “A fé, se bem
sustentada, não é ameaçada pelo conhecimento científico”, e concluiu,
“Sozinhas, nem a ciência nem a religião garantem que o ser humano seja
bom e que o bem comum seja alcançado. É preciso a presença da ética, do
respeito a todo ser humano, da consciência da responsabilidade
individual na construção do bem comum.”.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
0 comentários:
Postar um comentário