O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, ligado ao
Ministério da Cultura, já reconhece o “ato de curar por meios não
tradicionais” como um patrimônio imaterial da cultura. Mesmo que não
existam registros oficiais dessa atividade no instituto, existem dois
estudos que visam o reconhecimento das benzedeiras como atividade
lícita. Um no Rio Grande do Norte e outro no Ceará. Mas foi no Paraná
que elas foram aceitas primeiramente.
O mapeamento das benzedeiras, realizado pelo Movimento Aprendizes da
Sabedoria, feito em 2011 no Estado do Paraná, conquistou o prêmio
Rodrigo Melo Franco de Andrade, cujo objetivo é reconhecer iniciativas
de proteção, preservação e divulgação do patrimônio cultural brasileiro.
Foram identificadas 295 benzedeiras somente no interior do Paraná. As
cidades de Rebouças e São João do Triunfo, no Centro-Sul do Estado,
foram as primeiras a criar leis municipais para o reconhecimento da
atividade das benzedeiras.
Também foi nessa região que surgiu o Movimento Aprendizes da
Sabedoria (Masa). “O movimento serviu como uma ferramenta para a
articulação das benzedeiras, que não se comunicavam entre si e se
sentiam acuadas pelo preconceito contra a atividade”, explica Taísa
Lewitzki, uma das coordenadoras do movimento.
Em março de 2009, o levantamento das praticantes dessa atividade, que
tem um cunho espiritual aliada ao uso de ervas medicinais, incentivou a
criação das leis que permitem que benzedeiras, rezadeiras, curandeiras e
costureiras de rendiduras (dores musculares) possam praticar livremente
sua “ajuda espiritual”.
Os municípios de Rebouças e São João do Triunfo passaram as leias em
suas respectivas Câmaras Municipais. Taísa enfatiza que isso era inédito
no Brasil. “Existem leis semelhantes que reconhecem a atividade das
parteiras, mas, nesses moldes das leis das benzedeiras, o trabalho é
inédito”, ressalta, explicando que elas podem contribuir com políticas
de saúde pública.
As práticas das curandeiras e benzedeiras muitas vezes não são bem
vistas por alguns médicos. A “cura” realizada por elas, usando métodos
não científicos gera muitas críticas. “A segurança científica não pode
ser deixada de lado”, lembra o oncologista e vice-presidente do
Instituto Ciência e Fé, Cícero Urban. “A medicina não substitui o
curandeiro nem o curandeiro substitui a medicina. Eu não digo para um
paciente não procurar uma benzedeira, mas eu acho que ele precisa tomar
cuidado, principalmente se quiser substituir um tratamento médico”,
explica.
Já a psiquiatra e coordenadora no Paraná da Associação Brasileira de
Medicina Psicossomática, Maria Lúcia Maranhão Bezerra, diz que muitas
vezes o que mais prejudica é o atraso causado na busca pelo tratamento
médico convencional de quem é adepto dessa prática. “A tendência dos
médicos é respeitar essa atividade, mas esperamos que nenhuma dessas
práticas interfira na possibilidade de tratar o paciente a tempo de
recuperar sua saúde”, lembra.
Marta Drabeski é benzedeira há 24 anos e hoje também atua como
vereadora em São João do Triunfo. Ela comemora o reconhecimento oficial
de “seu dom”. Conta que desde a infância se sentia especial, porém era
censurada pela sua família, que era evangélica e não acreditava em suas
visões. Mas aos 11 anos de idade diz ter visto Nossa Senhora das Graças
em seu quarto. “A partir daí eu soube que tinha que curar as pessoas que
precisavam”, assevera.
Alice Teixeira está há oito anos na atividade de curandeira. Ela
lembra ter descoberto “seu dom” quando impôs as mãos sobre o peito da
filha de 2 anos, que sofria de desmaios. “Um clarão entrou na janela do
meu quarto e eu fui chamada a curar as pessoas em forma de retribuição
pela saúde da minha filha”, testemunha, afirmando inclusive já ter
curado pessoas com feridas graves e até recuperado quem estava em
Unidade de Terapia Intensiva do hospital.
Com informações Gazeta do Povo
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