Embalados numa batida psy trance,
com beijo na boca liberado, 2,7 mil figurantes, reunidos nas areias da
Praia do Paiva, em Pernambuco, gravaram a maior rave que o cinema
nacional já viu.
Em cartaz a partir de 4 de maio,
“Paraísos artificiais” faz uma radiografia da juventude brasileira a
partir de uma cena pouco focalizada nos filmes de ficção feitos no país:
a música eletrônica.
O filme vai de Pernambuco a Amsterdã,
sem esquecer as pistas de dança cariocas, sempre focalizando o consumo
de drogas sintéticas. E retrata uma cultura estabelecida no Brasil a
partir da segunda metade dos anos 1990 para além da música, numa
história de amor, perdas e recomeços.
Os protagonistas Erika (Nathalia Dill) e
Nando (Luca Bianchi) vão do ensolarado Nordeste à gélida Amsterdã atrás
de experiências que mudem suas vidas. Ora para o bem, ora para o mal.
O diretor Marcos Prado sabia o que
queria ao escolher o tema de seu primeiro longa de ficção. Em 2004, ele
já havia feito “Estamira”, documentário sobre a moradora de um lixão que
era uma viagem à parte.
A ideia surgiu em meados dos anos 2000.
Coisa de “pai careta”. “Na época, estavam prendendo aquelas gangues de
traficantes de classe média. E eu tinha um filho de 15 anos e certa
preocupação com que tipo de drogas ele iria usar”, disse.
Marcos decidiu, então, pesquisar quem
eram os novos sócios do clube inaugurado em tempos imemoriais. Ao mesmo
tempo, se via a toda hora diante da mesma encruzilhada: “Será que estou
sendo moralista? Será que estou fazendo apologia?”.
Como produtor de “Tropa de Elite”
(2007), ele ouviu um bocado. De aplausos, pelo sucesso de público, mas
também de acusações, vindas da ala que tachava o filme de “fascista” e
“moralista”.
“Paraísos artificiais” retrata a vida
hipócrita da elite universitária, critica a truculência policial, mas
sem conflito de consciência em se valer do tráfico. ”Não acho moralismo,
não. Acho realista. A bala perdida sobra para os coitados da favela”,
diz Prado. “A gente comprando nosso bagulho aqui, trancadinho em casa… É
conivente. Plante em casa, grite na passeata da maconha, pô”, dispara o
diretor.
Fonte: Folha
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